by Marcela Fujiy
Aceleradora de Mulheres e co-fundadora da Be.Labs
Uma notícia me abalou profundamente essa semana.
A morte da influenciadora Liliane Amorim, 26 anos, em decorrência de complicações durante um procedimento de lipoaspiração despertou em mim sentimentos que aos 42 anos pensei não ter mais de lidar
Coincidentemente, um dia antes, durante um café entre amigas, eu expunha a minha vontade de fazer uma cirurgia de sustentação dos seios. Eu sinto uma dor insuportável no ombro justamente no ponto da alça do sutiã, mas não consigo me livrar do hábito de usá-lo. Além do incômodo causado pelo suor, pejorativamente divulgado por alguns cirurgiões plásticos nas mídias sociais como ‘ chulé de teta’.
Meus seios sempre foram flácidos. Aos 21 anos eu procurei um cirurgião plástico bam-bam-bam com a desculpa de que o tamanho dos meus seios machucavam minhas costas (pura balela, eu queria apenas uma aprovação para ir ao cirurgião). Na consulta, ele me examinou, olhou para os meus seios e disse: “ Claro que precisa operar, você tem mamas de quem amamentou 6 filhos”.
Eu saí do consultório arrasada. Liguei para Christian (hoje meu marido, e à época já namorávamos) que me consolou. O tempo passou e eu desisti da ideia.
Pois bem, voltando ao café com minhas amigas, ao expor a minha vontade da cirurgia plástica a unanimidade foi: ‘ Duvido você não fazer uma lipo também’.
Ali descobri que uma amiga próxima e antiga fazia lipo anualmente. Eu sempre, mesmo que tentasse não fazer, me comparei com ela. A gente sempre teve corpos parecidos e eu pensava ‘ Poxa, ela consegue um shape desse e eu não’.
Minha outra amiga que é psicanalista e pela qual tenho uma profunda admiração, trouxe para discussão uma paciente sua que estava feliz da vida por ter feito uma lipo e que depois de três anos finalmente poderia por um biquíni para ir a praia. Eu respirei fundo, e dei um gole no meu café.
Essa amiga psicanalista defendia que cada um pensa de uma forma, e que tal procedimento ajudaria sua paciente por um ponto final em uma jornada na recuperação de sua autoestima. Essa mesma paciente já havia feito nariz e estava programando para fazer os seios.
Uma terceira amiga disse que escutou que alguns cirurgiões plásticos são tão persuasivos em sua fala que dizem: ‘ Vamos fazer a lipo também, você dorme e acorda perfeita’. Quem não quer ?, perguntou ela.
Argumento que o Brasil é o país onde mais se faz cirurgia plástica no mundo (de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética -ISAPS) . Que tem alguma coisa errada nisso, tem, a exemplo da paciente de minha amiga que teve que fazer inúmeros procedimentos cirúrgicos para se sentir plena. Uma violência, ainda acrescento.
A gente termina a discussão falando sobre o quanto a minha amiga que faz lipo anual faz uso contínuo de uma medicação para diabéticos que tira a fome.
Minha amiga psicanalista conta que também faz uso da medicação e o meu café desceu mais amargo que o usual.
Absorta em meus pensamentos, eu volto para casa.
Entro em meu quarto, me desvisto. Me olho nua no espelho. Toco meus seios.
Quase vinte dois anos se passaram desde que consultei aquele médico que me olhou, deu um tapinha em meus seios e disse: ‘ parece que você amamentou seis filhos’.
Nesses vinte dois anos eu amamentei dois filhos, emagreci e engordei muitas vezes.
Nesses vinte dois anos parei de recorrer a medicações para emagrecer, comecei a praticar corrida de longa distância e procurei um psicólogo e um psiquiatra para tratar minha compulsão alimentar e transtorno de ansiedade.
Nesses vinte e dois anos eu amadureci suficientemente para dizer sim, eu acho lindo os meus seios. Amo meu corpo. Me aceito verdadeiramente.
Apesar de viver em um mundo que constantemente me diz ao contrário, com fotos, propagandas, mentiras e subterfúgios, eu amo meu corpo.
Esse corpo já pariu dois filhos, já correu milhares de quilômetros e já viajou muitas milhas.
Esse corpo entende que não quer que nenhuma mulher passe o que ele passou por conta do culto à beleza.
No dia seguinte, a notícia da morte de Lilian veio com
um pesar enorme. Perdemos mais uma mulher para o culto da beleza. Mais uma mulher morre em vão para uma sociedade que insiste em objetificar as mulheres e valorizá-las pelo seu corpo. Basta!
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