Indiana amante do tema empatia fundou universidade para estudo constante
Em um mundo num contexto de pandemia global, provocada pela Covid-19, com efeitos devastadores para o planeta, o ano de 2020 ficará certamente marcado na nossa história, e no que foi considerado o “novo normal”. Os desafios que nós todos tivemos que enfrentar foram imensos e sem precedentes, não apenas individualmente, mas coletivamente. E seguimos tendo esses desafios pela frente, sobretudo aqui no Brasil, infelizmente.
Talvez, por isso mesmo, a empatia nunca tenha sido tão essencial como grande aliada neste momento de crise global, um apelo à ação para garantir a continuidade das nossas vidas, dos negócios, além de nossa adaptação a novas perspectivas de vida, derrubando muros e criando pontes, permitindo conexão e colaboração entre as pessoas. Mesmo diante de tantas incertezas, a evolução é a nossa constante. Tem sido um período de muitos aprendizados, perdas, dores, mas também comemorações e muitas superações.
Não é por acaso que a ONU Mulheres elegeu o tema ‘Mulheres na Liderança: alcançando um futuro justo na era Covid-19’ como tema do Dia Internacional da Mulher deste ano.
Como resultado dessa realidade, Marcela Fujiy, uma das fundadoras da Be.Labs – empresa de tecnologia social com o propósito de acelerar futuros diversos, inclusivos e abundantes – recebeu na última quarta-feira (24/03) uma especialista para quem o único remédio eficaz para o combate às desigualdades de gênero, principalmente no ambiente de trabalho, é a empatia. Defensora convicta do que considera um valor, a facilitadora e ativista Rasha Kutty é fundadora da Empathy University, sediada no estado de Kerala, no sul da Índia.
Ela se define como uma entusiasta e apaixonada pelo tema, acumulando quase uma década de atuação direta nas questões de gênero. “Eu sou uma defensora da empatia e acredito firmemente no poder do indivíduo de fazer mudanças em seu ambiente.”
Sua obstinação pela mudança de comportamento, aliada à longa experiência no setor corporativo – com passagens por organizações como Yahoo, trabalhando com clientes como a Apple, tanto na Índia quanto no exterior -, redirecionando sua carreira, e passando por áreas como criação de conteúdo, gestão de projetos e marketing digital, até a fundação da “The Empathy University”, Rasha é determinada. Ela descreve a instituição indiana como “uma solução completa para todos os requisitos de educação em empatia, onde certificações, workshops, webinars e consultorias são oferecidos a homens e mulheres, para sensibilizar os participantes a desenvolver esse valor como uma habilidade ocupacional e de vida fundamental”.
Segundo Rasha, não devemos confundir empatia com soft skils, expressão muito recorrente como habilidade desejada no mundo corporativo.
Logo de cara, a especialista explicou qual o significado de empatia.
Ao longo dos anos, contou Rasha, o termo empatia tem sido usado em vários contextos, em campos como psicologia comportamental, neurociência, sociologia, políticas públicas e assim por diante. “Por isso, eu sinto ‘empatia’ como um conceito que recebeu várias definições ao longo do tempo”. Na verdade, adverte a ativista, “um estudo que tentou revisar o conceito de empatia acabou identificando um total de quarenta e três definições distintas de empatia. “Mas eu, pessoalmente, me relaciono intimamente com o resumo conceitual fornecido pelo popular psicólogo humanista Carl Rogers, que descreve a empatia como a capacidade ou o esforço de compreender o quadro de referência de outro ser humano, imaginando com precisão os ‘pensamentos’ e ‘sentimentos’ de alguém, a fim de realizar uma ação apropriada que beneficie essa pessoa – mas este ato de empatia deve ser acompanhado da compreensão de que o mundo da outra pessoa é seu, e o meu mundo é meu, e que meu mundo é separado do dela.”
A fundadora da Universidade da Empatia contou ainda que a ciência é clara quanto ao imenso potencial que a empatia tem como valor ou como competência para revolucionar o mundo para melhor.
“Cientistas, filósofos e líderes religiosos sempre reconheceram e discutiram a importância da empatia. Mais recentemente, a necessidade de empatia está sendo amplamente discutida por presidentes de países como Barack Obama, Joe Biden e Jacinda Ardern, educadores e até mesmo CEOs de empresas, a exemplo do que foi publicado na revista Fortune 500, incluindo entre esses líderes da iniciativa privada Tim Cook (Apple) e Satya Nadella (Microsoft).”
As pessoas também estão cada vez mais conscientes de que a empatia está no cerne do marketing e do desenvolvimento de produtos, aponta Rasha, para quem é por essa razão que uma discussão sobre Design Thinking e até mesmo Inteligência Artificial não faz sentido sem a menção da empatia e do papel que ela desempenha na compreensão do comportamento do consumidor.
“Estudos científicos demonstraram que a empatia contribui para nossa felicidade e bem-estar e desempenha um papel positivo nas relações interpessoais, principalmente nas parcerias conjugais. A empatia aumenta os comportamentos de ajuda nas pessoas e estimula a criatividade – uma habilidade muito procurada atualmente. A empatia reduz agressões sexuais, violência doméstica, racismo, preconceito e bullying”, afirma Rasha.
O estudo Businessolver® State of Workplace Empathy, que é realizado anualmente nos Estados Unidos, após recente pesquisa igualmente conduzida por Rasha, diz que a empatia continua a desempenhar um papel fundamental para os funcionários em suas decisões sobre os locais de trabalho que escolhem, seu salário, seu esforço de trabalho e se eles permanecerão ou deixarão sua organização atual. Mais de 90% dos funcionários, profissionais de RH e CEOs entrevistados opinaram que a empatia é importante no local de trabalho; 76% dos funcionários acreditam que uma organização empática inspira funcionários mais motivados; 83% dos funcionários considerariam deixar sua organização atual para uma função semelhante em uma organização mais empática. Além disso, 82% dos CEOs acreditam que o desempenho financeiro de uma empresa está vinculado à empatia.
“Nos resta apostar nesse valor e praticá-lo, pois não é algo que aprendemos rápidos, temos de fazer uma educação continuada e permanente sobre empatia, e isso leva tempo”. Portanto, ressalta a ativista indiana, “sinto que a empatia é, sem dúvida, uma competência crítica na qual as empresas devem se concentrar e um valor cultural que toda empresa deve se esforçar para praticar”.
Por fim, conclui Sasha, ser alguém que nasceu e foi criado em uma sociedade muito tradicional e predominantemente patriarcal, requer saber a importância da empatia para a construção de um mundo mais justo. “Lembro-me desse incidente quando visitei a casa de um parente em minha cidade natal. Fui convidada para almoçar na casa de amigos e, na minha comunidade, quando há encontros sociais, os homens, quase sempre, comem primeiro. Esses homens muitas vezes se esquecem de se certificar de que sobrou comida suficiente para as mulheres que cozinharam a comida, em primeiro lugar. As mulheres acabaram tendo menos comida para comer. Naquele dia, também observei que os homens recebiam pratos novos e bonitos para comer, e as mulheres da casa comiam em pratos velhos e comuns. Quer dizer, não importa muito qual prato você come, seja ele novo ou velho, é mais sobre a distinção feita entre um homem e uma mulher que eu considero injusta.”
Para mim, continua, “o que é surpreendente é como esses homens puderam se esquecer de guardar comida para as demais mulheres que eram suas esposas, suas filhas, suas irmãs e suas mães. De onde vem esse tipo de mentalidade?”
Na maioria das vezes, destaca, são as próprias mães desses homens que não recebem a comida, e são elas que ensinam seus filhos a agir com privilégios. “E essas mães fazem isso, na maioria das vezes inconscientemente, por causa de anos e anos de condicionamento.”
Rasha finalizou nossa conversa dizendo: “É por isso que eu sinto que, como mulheres educadas, precisamos ser melhores. Precisamos ensinar empatia às crianças. Devemos garantir que nossos filhos aprendam que, embora fisiológica e biologicamente existam diferenças entre um homem e uma mulher, todos merecemos as mesmas oportunidades.”
E, “quando os meninos crescem aprendendo a pensar a partir da perspectiva dos outros, especialmente de suas irmãs, mães e amigas, eles crescerão e se tornarão homens capazes de se colocar no lugar das mulheres, o que é a chave para relacionamentos mais felizes!”
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