Formada em Administração, com um gosto especial por psicologia, e com uma trajetória incrível, a gaúcha Gabriela Guerra foi nossa convidada para uma live com Maria Clara Magalhães, uma das fundadoras da BeLabs. Gabi como é conhecida, reside atualmente em Ottawa, no Canadá, onde deve começar um mestrado em sociologia logo mais em setembro na Carleton University. É consultora e líder de projeto na No One – uma empresa de estratégia e inovação, especializada em aproximar organizações e pessoas por meio do design, e que coloca os usuários no centro do processo para criar produtos, serviços, experiências e negócios transformadores.
Palestrante TEDx, ela se dedica a pesquisas sobre impactos da tecnologia na sociedade, segurança da informação e privacidade de dados. “Busco entender como se criou a visão utópica da internet que vemos hoje”, afirmou.
Além disso, mantém uma plataforma de conteúdo, @tecnocriticas, onde escreve sobre questões relacionadas a tecnologia com um viés crítico.
Profissionalmente, Gabi fez carreira na capital gaúcha. Foi stock broker na XP Investimentos, estagiária em recursos humanos na Dell, analista de métricas na Winehouse, fundadora do aplicativo Porto Alegre Como Vamos, pesquisadora na PUC-RS, gerente de projetos, coordenadora de cursos e professora na escola criativa Perestroika, até aportar na gigante de tecnologia ThoughtWorks (TW) em 2013, onde entrou como analista de negócios, passando por líder de justiça social e econômica da empresa no Brasil e, dois anos depois, assumiu a equipe global de justiça social e econômica. Ascendeu à diretora-presidente da organização ao lado de outra mulher (Caroline Cintra), com quem escreveu o livro Juntas: O poder da liderança compartilhada nos negócios.
Depois de deixar em outubro de 2018 a TW, que tem um notável trabalho de governança, inclusão e gestão femininas, tirou um sabático.
Gabi disse acreditar que a tecnologia é uma ferramenta muito poderosa, mas não devemos vê-la num vácuo. “Uma mesma tecnologia pode ter resultados diferentes dependo do seu uso e entorno. A tecnologia não anda descolada da sociedade e dos problemas desta, inclusive, das possíveis soluções”. Nesse sentido, complementou, ela pode ser uma aliada ao mundo do trabalho para as mulheres e de qualquer grupo minimizado, tanto do ponto de vista de inclusão quanto no impacto que ela terá, sobretudo se considerarmos os vieses e algoritmos. Vale ressaltar, então, que temos de construir tecnologias que não endossem os vieses aos quais já estamos acostumados e reproduzi-los. “Há quem ache que com IA (Inteligência Artificial), por exemplo, por conta da automatização, isso é livre de preconceito, mas como quem ensina as máquinas somos nós, a verdade é quem sim a informação pode ir contaminada, com viés”, advertiu.
Por essa razão, ressaltou Gabi, a importância de termos times mais diversos nas equipes de construção de softwares e tecnologias em geral. Isso minimiza a presença de vieses. “É triste termos de discutir isso ainda, porque as pessoas têm de estar incluídas em uma área como a TECH”.
Maria Clara lembrou do livro ‘Invisible Women: Exposing Data Bias in a World Designed for Men’, de Carolina Peres, que traz dados de como o mundo foi construído por homens, não apenas no design. A obra traz o exemplo do programa de governo ‘Minha Casa, Minha Vida’, que projetou casas bem distantes do centro das cidades, o que prejudicava a mobilidade dos moradores desses condomínios populares, principalmente as mulheres, que têm jornadas duplas, triplas, e são justamente as que mais sofrem com questões de deslocamentos, déficit habitacional, dificuldade de vagas em creches para seus filhos e sustento dos lares. Por essa razão, aponta a publicação, ao não levar em conta os dados reais, obras como essas são mau construídas.
Outra questão relevante trazida pela pesquisadora foi o fato de comumente falarmos de mercado de trabalho, inclusive no mundo TECH, nos referindo a mulheres e homens brancos e ricos, uma área bem paga e com farta oferta de empregos. “O racismo estrutural aqui nada de braçada, é preciso estarmos atentos a isso”.
Por conta dessa constatação, a ThoughtWorks como empresa de tecnologia da qual Gabi esteve à frente é um belíssimo exemplo de indutor de políticas de inclusão, inclusive de pessoas pretas, tanto no desenvolvimento quanto na gestão da organização, assim como em parceria de recrutamento. “Felizmente, essas boas práticas ganham cada vez mais espaço por lá. Fora isso, quero chamar atenção para a aposta na autonomia das pessoas na TW, algo muito presente no DNA da empresa, algo de que me orgulho muito de ter feito parte e ajudado a construir”, exaltou a ex-diretora-presidente da TW.
E, por falar em indução, abordamos a necessidade de formularmos políticas públicas de acesso à tecnologia e internet, pois não adianta falar em democratização e em inovação se não levarmos em conta quem de fato hoje está incluído. Hoje, 26% ou um quarto da população brasileira não tem acesso à internet, segundo o estudo TIC domicílios. Eles são conhecidos como os excluídos digitais e se distanciam do crescente número de consumidores online.
“Por fim, resta saber com quem achamos que estamos falando se temos esse contingente de gente fora até do mercado de consumo. Como fazer propaganda, falar em trabalho remoto, ou mesmo educação à distância, se essa leva significativa de cidadãos não têm acesso sequer à internet. Temos de usar a tecnologia em nosso favor, para nos servir”, completou Gabi.
Ter acesso, como aponta a escritora Shoshana Zuboff no seu livro ‘A era do capitalismo de vigilância’, a várias ferramentas gratuitas como Instagram, Facebook, Google – que têm utilizado informações sobre nossos comportamentos nas redes para ter previsibilidade sobre comportamentos futuros -, não quer dizer mapeamento, inclusão nem gestão de comunidades. “Precisamos ir muito além, e de fato ajudar na construção de uma sociedade mais justa, equitativa e inteligente. Para isso, não adianta só falar, mas ter intenção e realizar”, concluiu Gabi.
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