E sempre o fiz. E os 14 anos comecei a me depilar com cera (tenho alergia a gilete) . Hoje aos 41 me pego confinada na quarentena sem conseguir me depilar e me perguntando: por que cargas d’água eu não aceito meus pelos? E já que estou falando de aceitação de algo que é meu, por que não aceito meu corpo.
Sim, porque eu não suporto a ideia de engordar durante esse período que estamos em casa.
Nos últimos anos a discussão sobre a aceitação do corpo aumentou, o que é muito importante porém não suficiente para apagar o que foi carimbado no meu cérebro. Não consigo aceitar os pelos do meu corpo apesar de conscientemente saber que são parte dele. São naturais, protegem minha pele, aumentam o prazer.
Sei que se ao me expor com pelos serei vitima de ao menos uma piada misógina. Mas o pior não é isso. O pior é não querer me expor por achar feio. É não aceitar. É saber que a geração da minha filha Yasmin de 11 anos já não aceita seus pelos também. Ela, aos 11 anos já se incomoda pelos seus pelos nas axilas e sei que isso é reflexo do meu comportamento.
Uma outra geração… Maria Clara Magalhães
Eu com 23 anos, tenho o mesmo dilema. Consigo até conviver bem com meus pelos, até um certo momento quando me vem uma vontade de me depilar toda porque eu me sinto de certa forma mais limpa. Mas, quem disse que não se depilar é desleixo ou anti-higiênico? Mesmo na situação de quarentena, que não tenho olhares julgadores sobre os meus pelos, o sentimento não mudou, uma necessidade louca de me depilar.
Quando foi que pelos entrou na cota da higiene?
“Por que nós nos depilamos? Não depilar é sinônimo de falta de higiene ou desleixo? Por que algo que é natural nos corpos de mulheres adultas é visto com tanto tabu? Ah, quer dizer, depende de onde você está… O Brasil é um dos lugares onde as mulheres mais se depilam no mundo!” Iaci Mulher
É sempre algo histórico de longos anos de uma cultura patriarcal. Na Grécia- o berço de toda civilização ocidental- onde se tem os primeiros registros da depilação só para mulheres, porque desde essa época os homens tinham orgulho de seus pelos.
Enquanto para os homens os pelos eram e são exibidos como um símbolo de poder, virilidade, masculinidade. Nas mulheres eles deveriam ser ausentes como sinal de fragilidade, delicadeza de feminino.
Isso me faz pensar que a depilação nos acomete como esse peso cruel, assim como o salto, a maquiagem, os esmaltes e todas essas coisas tratadas como “de mulherzinha” para controlar a forma que a gente se comporta e como tratamos nosso corpo.
Mas juntas sabemos que não adianta levantarmos discussões e brincar de diversidade nas campanhas. Não adianta palestras, lives e posts e não mostrar a real do que é ser mulher nas redes sociais. Não adianta levantar a bandeira do eu me aceito quando na verdade o que mais se busca é a aceitação do outro seja por likes, comentários os views.
Como a gente lida com isso? Muito além da vaidade e do autocuidado, isso é uma questão social de como as culturas nos são impostas. Nossa autoanálise vem curta e grossa, profunda e polivalente. Por quê? Sim… inúmeros porquês até chegar na essência do porquê estamos fazendo isso. “Estou me maquiando para me expressar”. “Hoje, estou me depilando para ficar diferente dos outros dias”. “Cortei meu cabelo para sentir a brisa correndo na minha nuca”.
Essas não são respostas prontas. São individuais de cada ser. O exercício de ir até o final da plataforma resgatar sua criança e entender a sua mente através dos padrões e normas culturais estabelecidos, é um caminho para se aceitar.
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