by Marcela Fujiy
Aceleradora de Mulheres e co-fundadora da Be.Labs
Uma angústia me toma o coração desde o último ano. Ela vem e volta. Quando eu começo a pensar muito, o coração aperta eu mudo o rumo dos pensamentos.
Não demora muito a voltar. Bastar eu escutar alguma notícia de assédio moral ou sexual, estupro ou feminicídio.
Meus pensamentos divagam para minha filha, Yasmin, que hoje tem 12 anos.
Como criar uma menina de 12 anos em um mundo que insiste em nos matar?
Nos 12 primeiro dias de 2021, 46 mulheres foram assassinas e 76 foram vitimas de crime por gênero.
Enquanto Yasmin era uma criança, essa angústia não era tão latente.
Sim, eu sempre refletia sobre o assunto, mas não tão frequentemente. Não era tão dolorido, não era tão sufocante.
Sufoca não poder protegê-la dos olhares lascivos dos homens. Sim, ela só tem 12 anos, e os olhares estão todos lá. Eu sinto e enxergo todo eles.
Sufoca ter que dizer que ela cubra a calça com a camisa mais comprida quando vai para a escola. E, se por acaso, escutar um ‘gostosa’, apenas finja que não ouviu nada e apresse o passo.
Sufoca ter que explicar que na lógica desse mundo usar roupas curtas é um convite para que homens se apropriem do seu corpo. Eu sei que ela não vai aceitar esse argumento quando conversarmos sobre isso, porque eu não a criei para aceitar seu destino com resignação.
Corrói ter que macular a sua inocência e crença nas pessoas e explicar que ela tem que estar sempre, sempre, alerta aonde quer que ela esteja.
Dói lembrar de todos os olhares que que eu senti, vi e passei. Dói lembrar das passadas de mão, dói lembrar dos insultos e das ameaças na rua. Dói saber que apesar da luta e das vidas de tantas mulheres o mundo muda em passos tão pequenos, que não foi suficiente para protegê-la do que eu passei, que minha mãe passou.
A angústia vem e toma meu coração. Eu olho para ela. No fundo nos seus olhos amendoados. A inocência. O brilho. A esperança. Meus olhos se enchem d’água e eu engulo o choro. Eu guardo a angústia lá em um canto do meu coração. Que eu demore a achá-la.
Me sinto revigorada com uma energia de quem não vai cansar de lutar por um mundo em que os homens não queiram mais nos matar.
Que outras tantas mulheres, como eu, não apenas expresse sua indignação, seu temor, mas externe sua esperança e sua força pela transformação dessa realidade, que afeta a todas nós, sem exceção, e que criemos um mundo mais possível para todas que merecem e querem ser e estar como e do jeito que somos, mulheres.
Te convido a se manifestar tem todas as plataformas, pessoais e institucionais, e a mudar o que aí está e não cabe mais.
Não é só por nós, é por todas nós.
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