Aos 31 anos eu tinha alcançado na vida o que, para uma menina brasileira e criada no nordeste nos anos 80, seria o sonho de qualquer uma: casada, morando no exterior, dois filhos saudáveis e carreira em uma multinacional . Além de tudo isso, um marido que ajudava nos afazeres domésticos e uma paternidade ativa.
Naquele momento da minha vida eu estava dando um duro enorme, focada, construindo minha carreira internacional (que eu nunca pensei que um dia iria ter). Minha vida era basicamente trabalho e viagens a trabalho, e algumas poucas a lazer também. Porém, o trabalho era o que dava um real sentido para a minha vida.
Eu vivia em função daquilo: o trabalho e os planos futuros. Eu pensava por tudo e por todos, e carregava nos ombros a responsabilidade pela felicidade do mundo.
Com o nascimento das crianças, fui invadida por um sentimento avassalador que eu tinha nascido para ser mãe, mas também com a responsabilidade e o peso disso tudo.
Mulher, casada, dois filhos (um casal) saudáveis e carreira internacional!
Tudo perfeito, aos meus olhos e aos do mundo, mas aparentemente não em minha alma. Um belo dia ao sair do supermercado, me sento no carro e desabo em um choro desalentador. Sem entender o motivo daquele desespero, afinal , ‘I had it all’.
Ligo para minha irmã, terapeuta transpessoal, que me acalmou um pouco e depois de algumas conversas entendo que preciso de ajuda. Eu estava entrando em um processo de burnout.
Em 2008 já havia escutado esse nome. Duas amigas próximas haviam se afastado do trabalho (o que na Suécia era uma coisa muito mais aceitável do que no Brasil) pelas mesmas razões.
A minha escolha pela cura foi uma busca infindável pelo autoconhecimento. Uma escolha cara. Tanto financeira como emocionalmente.
Naquela época eu já praticava corrida de longa distância, mas foi no meu processo de cura que eu tomei gosto por esse esporte. Quanto mais eu corria mais eu me achava, nesses quilômetros eu acabei correndo uma maratona.
A terapia foi uma outra forma que encontrei de lidar com esse processo. Conhecer-me e entender toda a dinâmica que se passava ao meu redor foi essencial para que eu aprendesse a lidar com todo esse processo.
Alguns anos depois procurei um psiquiatra por entender que eu estava em um grave processo de ansiedade e compulsão alimentar.
Minha vida foi uma busca infindável pela magreza e isso me afetou severamente.
Porém, eram soluções que eu buscava, porque de alguma forma eu tinha que resolver o problema. Na minha cabeça ‘o problema estava comigo’.
Mas, o tempo todo o problema estava era no meio. Na sociedade que me disse que eu tinha que dar conta de tudo. Que me disse que o quão mulherão da p@orra eu era por dar conta de tudo.
Confesso que apenas recentemente eu questionei Christian (meu parceiro ) sobre o que ele pensava enquanto lavava louça, quando ele então me respondeu: ’Em nada, eu medito.’
Um misto de raiva e frustração me invadiu. Eu falei: ‘Como assim? Você não pensa que tem que marcar dentista, tem que planejar o aniversário de Yasmin, que a varanda está suja ou que precisa conversar com Yuri sobre métodos anticoncepcionais? Que você precisa emagrecer? Você não pensa em nada disso?”
Treze anos passaram desde aquela tarde em que desabei no carro no estacionamento do carro.
Há 13 anos eu busco me conhecer.
Eu posso dizer que encontrei algumas respostas (?) e autoconhecimento:
Primeiro, terapia. A jornada que me ajudou a crescer e me conhecer acima de tudo como mulher. Isso me fez perceber o quão poderoso era o autoconhecimento.
Em segundo lugar, férias. Isso me ajudou a entender o quão importante é o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, e me deu a oportunidade de compartilhar minha paixão por explorar o mundo com minha família. Isso me fez reconectar com meu eu interior.
Em terceiro, endorfina. Eu me tornei um maratonista. Correr longas distâncias me fez perceber o quão incrível e resistente um humano pode ser. Já corri incontáveis meias-maratonas e estou correndo minha décima maratona neste ano. Isso traz equilíbrio à minha vida.
Em quarto, empreender. A jornada do empreendedorismo, essa da resiliência, do cai sete e levanta oito vezes, que faz com que você teste seus limites em todos os sentidos.
Acima de tudo, faz 13 anos que digo a mim mesma: não é sua culpa.
E nesse setembro amarelo eu apenas reforço: você não precisa de conserto. E, sim, você é suficiente.
*Marcela Fujiy é aceleradora de mulheres, empreendedora fundadora da Be.Labs aceleradora e tem pressa de mudar o mundo.
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