by Maria Clara
Engenheira de Futuros e co-fundadora da Be.Labs
A revista Veja São Paulo publicou na sexta-feira (22/1), uma capa especial sobre o aniversário da cidade paulista que é hoje dia 25 de janeiro. A Capital do Nordeste: os novos migrantes que reinventam o design, a gastronomia, as startups e outras atividades da metrópole, que completa 467 anos”, é a frase que acompanha a foto de seis “nordestinos imigrantes”.
Um misto de sentimentos surgiu quando eu vi essa capa. Lembrei do primeiro curso que fiz em SP, eu tinha 21 anos, a Be.Labs estava no comecinho e minha dupla no curso era um gerente do Google. Estávamos falando sobre ecossistemas de inovação e eu estava muito animada por estar em São Paulo, uma sensação de que tudo acontece naquela cidade e ele falou:
“É Clara, São Paulo é mesmo uma cidade muito sexy, principalmente para jovens que querem crescer com suas empresas.”
Eu lembro de ter me perguntado pela primeira vez, ali naquele momento, por que eu preciso ir para São Paulo para meu negócio poder crescer? Por um instante de tempo, eu me senti em jogos vorazes, São Paulo sendo o distrito 1. O Rio de Janeiro, o distrito 2. Eu sendo Alagoana, seria o distrito 20?
A capa da Veja SP escancarou o meu sentimento de que nós nordestinos precisamos ir para São Paulo para nossos negócios decolarem. Oxente, por que isso gente? Isso não pode mais acontecer. Não me entendam mal, eu também amo São Paulo, mas quando restringimos uma única cidade no Brasil para deter todo poder econômico, de conhecimento e inovação, a gente exclui toda a potência que temos aqui no Nordeste.
Ainda não ficou claro? Trarei um exemplo. Eu em uma mesa de bar em São Paulo, lá na Vila Madalena, comecei a falar do meu negócio: A Be.Labs é uma aceleradora de mulheres. A maioria entendeu e a conversa seguiu sobre investimentos, modelos de negócios, tecnologia. Quando eu fui para uma mesa de bar em João Pessoa, tive que dar um passo para trás e explicar o que é uma aceleradora. Porque termos como esses não são comuns no nosso entorno. Isso é um problema, afinal para aumentar o desenvolvimento econômico do Nordeste, precisamos que o conhecimento seja mais acessível, que seja comum para pessoas falar de negócios, de dinheiro, de criatividade. Assim as pessoas começarão a empreender por oportunidade e não por necessidade.
Quando a Be.Labs se posicionou em atuar no Nordeste brasileiro, é porque entendemos que vigora um estigma maior nessa região e ela é deixada de lado. Nós já tivemos aceleradas de São Paulo, mas a banda aqui toca de outro jeito. É um trabalho mais difícil, mas é a nossa compreensão daquilo que temos que fazer. As oportunidades não são as mesmas!
Não estamos fazendo esse trabalho sozinhos. Instituições como o Porto Digital em Recife, o Vale do Dendê em Salvador, Sururu Valley em Maceió, Black Swan no Maranhão, entre outras, estão trabalhando duro para que as pessoas tenham oportunidades aqui também.
Acho que a Veja errou feio na capa na edição comemorativa, mas estaremos errando ainda mais se deixar isso passar despercebido: o Nordeste não será mais um lugar de onde as pessoas têm que emigrar.
O Nordeste será também referência em desenvolvimento e inovação. E nós vamos fazer isso acontecer.
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