by Marcela Fujiy****
Alguma coisa me incomoda no mês de Março. Mês das Mulheres. Ser presenteada com flor e chocolate por ser mulher é algo que não me agrada tanto. Não me leve a mal quem não gosta de um mimo assim. Flores, não gosto tanto, mas quem me conhece sabe que sou louca por chocolates. A questão é o simbolismo que o mês traz e a relação com os presentes.
O mês é das mulheres, mas a maioria das pessoas não sabe de fato o que estamos celebrando.
A ideia de criar o Dia da Mulher surgiu entre o final do século 19 e o início do século 20 nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas feministas por melhores condições de vida e trabalho, e pelo direito de voto.
Estamos no século 21. O ano é 2020 e as nossas lutas são as mesmas:
Paridade Salarial
Paridade Emocional
Respeito
Não objetificação do corpo
Ao ser receber parabéns por esse dia me sinto estranha…..
Penso em todas as ocasiões em que na tentativa de me convencer ao contrário, ouço: “ mas as mulheres já têm muito espaço” ou “ não há diferenças entre homens e mulheres”.
Eu penso…. e se você trocasse de lugar com uma mulher da classe trabalhadora por apenas um dia. Sim, um dia.
Primeiro você acorda mais cedo para preparar o café da manhã da família. Claro, se você é da classe média brasileira você não se dá o luxo de ter uma empregada doméstica, então a mulher da casa levanta mais cedo para fazer o trabalho.
Depois, prepara as crianças para irem à escola, já que é no caminho do seu trabalho. Chegando lá leva uma chamada da professora porque não viu o recado na agenda direcionado às “mamães”, avisando que a criança deveria levar um objeto qualquer para a escola.
Pois bem, seguimos ao trabalho e considerando que você faça o mesmo que ela faz, você terá um corte salarial assim, do nada, de 20,5% ( de acordo com o IBGE ).*
Aí lá pela hora do almoço você sente o estômago roncar. Mas você vai comer uma salada sem gosto porque esse é o seu “lifestyle” (não pode dizer que está de dieta, hein! Não pega bem) . Uma pesquisadora sueca **mostra que como mulher, em média, você pensa em seu corpo a cada três minutos. Sim, a cada três minutos você para e pensa na sua aparência.
Assim que você chega do almoço para aquela reunião importante com um cliente que vai te garantir uma promoção tão esperada, ligam da escola para avisar que seu filho está com febre. Você liga para o seu parceiro, mas é claro que o compromisso dele é mais importante.
Você sai para buscar seu filho, mas não antes de escutar “por isso que é melhor trabalhar com homem. Mulher é muito emotiva.”
Logo ao sair na rua para buscar seu filho você sente um calafrio depois que um homem passa na rua e te chama de gostosa. O medo do pior passa pela sua cabeça.
Chegando em casa você aproveita para lavar a roupa e preparar o jantar. E torce para que seu filho melhore, para não perder outro dia de trabalho.
Bom, mas já que somos tão “iguais”, não há nenhum problema inverter os papéis, não acha?
Radical? Antes que comecem a atirar as pedras, pare e pense. Essa é a realidade da maior parte das mulheres brasileiras.
Na minha bolha convivo com inúmeras famílias que possuem uma dinâmica bem diferente dessa. Um dinâmica mais igualitária e justa. E isso me dá forças. Mas sei que a maioria das famílias brasileiras não funcionam assim.
Por isso a minha proposta para o mês de março é questionar: como nós, homens e mulheres, podemos de fato ajudar as mulheres a enfrentar todos os desafios que nos são impostos por nascer mulher?
1.Praticando a sororidade
Sororidade é um pacto social, ético e emocional construído entre as mulheres . É, antes de tudo, saber que, juntas, somos mais fortes, e esse fortalecimento só é possível se criarmos alianças robustas entre nós, tratando-nos como irmãs e não como inimigas.
2. Entendendo que somos machistas, mesmo sem achar que somos:
3. Entendendo que o feminismo, assim como a sororidade, é para TODAS as mulheres, independente da nossa afinidade ideológica, racial, cultural ou econômica.
Os avanços para com os direitos e situação da mulher estão acontecendo. Mas acontecem a passos lentos, muito lentos. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a igualdade de gênero só vai ser alcançada em 257 anos. ***
O mês de março é importante sim para a nossa luta. É um mês emblemático. Mas tão importante quanto celebrar nossas conquistas é saber que essa luta é diária. São nos atos do dia a dia que vamos fazer que esse machismo tão enraizado na nossa cultura seja substituído por uma nova cultura. Não aquela que nos foi imposta, mas sim aquela que criamos juntas, com nossas vozes.
Referências:
**Citação do livro Feminist Fälla de Nina Åkerstram https://www.adlibris.com/se/bok/feministfallan-9789188671677
**** Consultora e aceleradora de Mulheres, co-fundadora da Be.Labs Aceleradora
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