Envelhecer é glamouroso, diz Sheylli Caleffi
Em pleno século 21 e num contexto Covid-19, em que as mulheres são penalizadas por triplas jornadas de trabalho, remuneração inferior aos homens pelos mesmos tipos de trabalho, ou não remuneração pelos afazeres domésticos, falta de acesso a cargos de liderança e a crédito para empreender, fora outras tantas iniquidades, outra carga, sobretudo no âmbito emocional, segue nos acometendo: o chamado etarismo, que recentemente ganhou notoriedade nas redes sociais.
Após a divulgação de um vídeo do Porta dos Fundos, o canal da equipe e o apresentador Fabio Porchat receberam diversas críticas sobre terem praticado etarismo. Para a escritora e produtora de conteúdo Cris Guerra, esse tipo comum de preconceito passa despercebido, mas precisa ser falado e desconstruído, como todos os outros. O vídeo resposta dela ao Porta dos Fundos viralizou e está com mais de 200 mil visualizações no Instagram.
Apesar do nome complicado – que também pode ser conhecido como ageísmo -, significa uma atitude ou pensamento como forma de preconceito, discriminação ou estereótipo contra uma pessoa, ou grupo baseado na idade. Por ser uma forma tão comum de preconceito, às vezes acaba passando de maneira velada e despercebida, mas que precisa ser falado e desconstruído como todos os outros. O etarismo pode surgir como o pensamento de “você não deveria mais fazer isso por causa da sua idade”, ou “esse emprego não é mais para você”, ou, até mesmo, “você é velho/a demais para ela/e”.
No caso das mulheres, esse preconceito nada velado vem em outros formatos, em especial no que diz respeito à aparência, que passa desde a necessidade de pintar os cabelos para esconder os fios brancos – o que culturalmente até há pouco era admitido e admirado nos homens -, à crítica aos relacionamentos amorosos com pessoas mais jovens, entre outras críticas.
Mas esses embates estão perdendo espaço para levantes cada vez mais audíveis: a onda dos cabelos femininos grisalhos, adotados inclusive por Cris Guerra, nova porta-voz do antiageísmo, assim como atitudes que reivindicam espaços e liberdade às mulheres fazerem, estarem e desejarem o que quiserem, da ciência, à tecnologia, da maternidade tardia aos sabáticos, sem limites.
Para conversar sobre esse e outros temas às vésperas do Dia Internacional da Mulher, a BeLabs convidou a diretora artística, ativista apresentadora, treinadora de comunicação e oratória, multitask, hoje com 38 anos. A ideia foi repercutir esse tema, começando pela provocação: por que não falamos, mas sobretudo por que não praticamos nem investimos no diálogo intergeracional, inclusive entre as mulheres, se temos tanto a trocar e a aprender, e se queremos um mundo onde caibamos todos nós, com respeito, tolerância, equidade, empatia e sonoridade?
Sheylli contou que a pessoa velha é desprezada. “É muito triste constatar que os velhos, para alguns, deveriam morrer na pandemia, afinal já viveram uma vida. Não cuidamos deles, mas devemos honrá-los”. Para ela, precisamos enxergar as pessoas como elas são. E, adverte: “minha mãe, que é de onde eu venho, é uma mulher livre, independente, que hoje está solteira. Para essa geração, é mais difícil estabelecer contato físico, retomar a vida sexual. Aliás, a gente acha desde sempre que os pais não transam”.
Sheylli aposta não no conflito geracional, mas na colaboração geracional, na escuta e na troca. “Como a gente tem poucos exemplos, então a gente acha que não dá para fazer isso. Precisamos construir e atualizar essa base de referência sobre o que é possível fazer com mais idade”.
Como diz Cris Guerra: “Envelhecer não é para os fracos. Ainda mais num país em que a palavra soa como um crime, um estigma. A pessoa faz aniversário e já vai tentando arrumar uma identidade falsa. Não dá para continuar incentivando esse preconceito. Mas, mesmo com esse mundo caótico, eu vejo que amadurecer tem o seu lado bom, sim. Hoje, eu sei escolher melhor as batalhas que valem a pena, eu aprendi com o tempo e com a minha contadora a optar pelo simples, sou bem mais flexível hoje do que quando eu tinha 20/30 anos, tem um ano que eu assumi o cabelo grisalho e foi libertador. O tempo passa sim, para todo mundo, o tempo todo. E envelhecer, não significa não poder mais fazer as coisas, mas também não é a certeza de que eu posso tudo, aliás, eu nunca pude. Mas, eu te garanto, eu não troco os meus 50 pelos meus 20”.
Vale lembrar, como aponta Sheylli, que teve de enfrentar uma menopausa precoce, que nós estamos envelhecendo o tempo todo. Então, velhos somos todos, e há muita dignidade nisso!
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